Rio de Janeiro para os Amantes da História: um tour pelo Centro da cidade
Encontrei com a Bia na Cinelândia em frente ao Cinema Odeon, e o passeio terminou lá no Mosteiro de São Bento, perto da Praça Mauá. Foram aproximadamente 4km de caminhada, passando por um monte de lugares super familiares dos quais muitas vezes eu não conhecia a história – e alguns foram uma verdadeira descoberta! Pra vocês entenderem melhor: eu trabalhei no Centro do Rio, mais precisamente na Cinelândia, e andava por ali indo e vindo das barcas na Praça XV pra ir pra casa em Niterói. Mas quando a gente está com pressa e tem horário a cumprir no dia-a-dia, realmente não tem nem tempo de parar e prestar atenção em tantas construções importantes na história do Rio de Janeiro e do Brasil que possam estar no trajeto…
Vamous ao tour! Fiquei no maior dilema sobre a melhor forma de escrever sobre o tour, porque se eu for recontar todas os fatos históricos que a Bia contou, isso aqui vira um livro. Fora que eu obviamente não vou me lembrar todos os detalhes, mesmo tendo anotado um monte de coisas. Então vou mostrar o roteiro, falar só o básico de cada lugar e dar os links pra maiores informações pra quem quiser, assim esse post não vira um tratado de história do Brasil.
Começamos na Cinelândia (o nome certo é Praça Floriano Peixoto), em frente ao cinema Odeon, que foi o último dos grandes cinemas construídos (em 1926) na época de ouro da Cinelândia – a praça tem esse apelido justamente por causa do número de cinemas (7) que existiam no local. O Odeon é o único que continua em operação, e tem uma programação intensa.
A Cinelândia fica no finalzinho da Avenida Rio Branco, que originalmente se chamava Avenida Central, e foi construída no início do século XX pelo prefeito Pereira Passos na grande reforma urbanística do Rio de Janeiro (conhecida como Bota Abaixo, já que centenas de casas e cortiços foram demolidos para abrir espaço para ruas e avenidas mais amplas, para melhor arejar e sanear o Centro). A Avenida Central ligava o porto na Praça Mauá até a Glória, e era (ainda é) a principal avenida do Centro.
Ao redor da Praça da Cinelândia ficam o Theatro Municipal (de 1909, e que passou por uma restauração recente, está lindo!), a Biblioteca Nacional (de 1910), o Museu Nacional de Belas Artes (que foi a Escola Nacional de Belas Artes, de 1908), a Câmara de Vereadores (Palácio Pedro Ernesto, de 1923), e o também histórico bar Amarelinho (fundado em 1921). Em frente ao Theatro fica o Monumento a Floriano Peixoto (de 1910), com diversas esculturas representando 4 grupos brasileiros (negros, índios, colonizadores brancos e missionários), pensamentos positivistas e o Marechal, no topo. A Bia explicou a história do monumento, dos prédios, do Bota Abaixo, haja informação!
Da Cinelândia seguimos pela Avenida 13 de maio (pela lateral do Theatro Municipal) até o Largo da Carioca, rumo ao Convento de Santo Antônio. Mais um dos lugares que eu tinha passado em frente trocentas vezes e nem sabia que poderia entrar. O Convento começou a ser construído em 1608 e só foi finalizado em 1620, no alto do morro que ficava em frente a Lagoa da Carioca, que foi aterrada com as obras de urbanização do Centro. O chafariz da Carioca passou a trazer água (que vinha pelo Aqueduto da Lapa) para a população local.
O Convento está passando por uma restauração que vai levar anos, mas vai ficar incrível com o que já descobriram por baixo de camadas de tinta ao longo dos anos. Mas eu fiquei mesmo impressionada com a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco Penitência (construída entre entre 1657 e 1733) – minha gente, eu nem imaginava que uma igreja barroca assim existisse no Rio de Janeiro, achei que era coisa que eu tinha que ir nas cidades históricas de Minas pra ver ao vivo. De cair o queixo!
Saindo do Convento, seguimos rumo à Confeitaria Colombo ali pertinho da rua Gonçalves Dias. Fundada em 1894 por dois imigrantes portugueses, a Colombo era o reduto de intelectuais e da alta sociedade na Belle Époque carioca. Linda, linda, linda, com seus espelhos belgas com moldura de jacarandá, tudo muito bem preservado. Babei nos doces mas ainda era cedo e não comprei nada pra comer, vai ficar pra próxima visita a o Rio.
Fomos andando pela Rua da Quitanda, onde as mulheres negras que conseguiam sua liberdade pela lei dos sexagenários vinham vender comida na rua pra comprar a liberdade dos filhos. Fomos até o Palácio Tiradentes, onde funciona a infame Assembléia Legislativa do Rio, e onde Tiradentes ficou preso por 3 anos. Depois andamos em torno do Paço Imperial – Paço é uma denominação abaixo de Palácio, porque só podiam existir Palácios no Reino e aqui era a Colônia. A família real chegou de Portugal no Rio e se instalou no Paço em 1808, e depois se mudou para a Quinta da Boa Vista. Dois eventos importantes que aconteceram no Paço Imperial foram o Dia do Fico e a Assinatura da Lei Áurea. Vimos o Chafariz da Praça XV feito pelo Mestre Valentim (eu nunca tinha me dado conta que esses chafarizes não eram decorativos, e sim onde a população vinha buscar água), a estátua do General Osório vitorioso após a Guerra do Paraguai, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo (Antiga Sé) que se tornou a Catedral quando a família imperial chegou ao Brasil (nós não entramos na igreja durante o tour, eu entrei na volta pra casa, porque era no meu caminho). A Catedral foi palco da coroação de D. João VI como rei de Portugal (em 1816) e do casamento do príncipe D. Pedro com D. Leopoldina da Áustria (em 1817), futuros imperador e imperatriz-consorte do Brasil.
Ali em frente tem o Arco do Teles, e foi por lá que a gente entrou, pela Travessa do Comércio passando em frente a Casa da Carmen Miranda, numa ruazinha cheia de restaurantes fofos. Continuamos andando, passamos pela Igreja da Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, que é considerada “milagrosa” porque foi atingida por uma bala de canhão (destinada ao Paço Imperial, que pontaria!) e continuou de pé (a bala de canhão pode ser vista preservada dentro de uma parede da igreja). Ali do lado na Rua do Ouvidor tem o restaurante Antigamente, que a Bia me falou que tem uma feijoada divina (pena que eles não estavam servindo naquele dia, senão eu ia ser obrigada a comer ali depois).
Seguimos até chegarmos a Casa França-Brasil e ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Às
A história da Candelária é muito interessante: um casal que viajava em um navio chamado Candelária quase naufragou em uma terrível tempestade; fizeram uma promessa para Nossa Senhora da Candelária que se sobrevivessem construiriam uma igreja em sua homenagem. O navio conseguiu chegar ao porto do Rio, e o casal cumpriu sua promessa: em 1609 construiu a primeira capela com esse nome, onde hoje está a igreja. Seguiram-se muitas obras, expansões, decorações, até 1901 quando a igreja recebeu suas portas de bronze.
Voltamos para a Avenida Rio Branco, passamos em frente ao Banco Central do Brasil e chegamos então a rua Dom Geraldo, que é onde fica o Mosteiro de São Bento. E aí mais uma vez eu babei com outra igreja barroca-rococó incrível (essa eu sabia que existia mas nunca tinha visitado nem visto fotos, foi uma outra surpresa). A igreja do Mosteiro é famosa pelas suas missas com canto gregoriano, e as domingos as 10h da manhã você pode assistir a missa toda em latim, além dos cantos. Eu não sou religiosa nem nada, mas quero ver só pelo ritual, que deve ser bem interessante.
E ali terminou o tour, a gente desceu o morrinho de volta pra Avenida Rio Branco, eu me despedi da Bia e já avisei que vou mandar toda a minha família fazer o tour com ela (a minha mãe já pegou o telefone pra marcar pra ela e pras amigas em breve). Muito bom mesmo, recomendadíssimo!
O nosso roteiro (mais ou menos) no Google Maps:
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Obrigada a Rio Walks que ofereceu este tour como cortesia.
Informações úteis:
Bia Tognarelli Guia de Turismo
Telefone: 21 9515-2354
Dias e horários: é só ligar e combinar com a Bia
Preço: R$ 60 por pessoa
Dicas: Use sapatos ultra confortáveis pra andar muito, claro! O Theatro Municipal tem visitas guiadas, veja os detalhes no site oficial.
Então vamos conhecer o Rio de Janeiro.