FONTE: http://www.aprendizdeviajante.com

Em julho passado fiz um tour maravilhoso chamado
Amantes da História pelo
Centro do Rio de Janeiro
com a Bia Tognarelli, então guia da Rio Walks. Infelizmente a Rio Walks
está fechando as portas, mas felizmente a Bia vai continuar o seu
trabalho de guia pra quem quiser fazer esse passeio, então a dica
continua valendo. Fiz esse passeio no dia que viemos embora pela manhã
(o vôo era a noite) e que coincidiu com o dia da chegada do Papa ao Rio,
então eu deixei as crianças em casa e fui sozinha, pra poder escapar
mais rápido caso a cidade estivesse um caos! Por causa desse dia
conturbado, eu fui a única pessoa que apareceu pra fazer o tour, então o
que era pra ser uma experiência em grupo acabou virando um roteiro mais
pessoal – melhor pra mim, claro.
Encontrei com a Bia na Cinelândia em frente ao Cinema Odeon, e o
passeio terminou lá no Mosteiro de São Bento, perto da Praça Mauá. Foram
aproximadamente 4km de caminhada, passando por um monte de lugares
super familiares dos quais muitas vezes eu não conhecia a história – e
alguns foram uma verdadeira descoberta! Pra vocês entenderem melhor: eu
trabalhei no Centro do Rio, mais precisamente na Cinelândia, e andava
por ali indo e vindo das barcas na Praça XV pra ir pra casa em Niterói.
Mas quando a gente está com pressa e tem horário a cumprir no dia-a-dia,
realmente não tem nem tempo de parar e prestar atenção em tantas
construções importantes na história do Rio de Janeiro e do Brasil que
possam estar no trajeto…
Vamous ao tour! Fiquei no maior dilema sobre a melhor forma de
escrever sobre o tour, porque se eu for recontar todas os fatos
históricos que a Bia contou, isso aqui vira um livro. Fora que eu
obviamente não vou me lembrar todos os detalhes, mesmo tendo anotado um
monte de coisas. Então vou mostrar o roteiro, falar só o básico de cada
lugar e dar os links pra maiores informações pra quem quiser, assim esse
post não vira um tratado de história do Brasil.
Começamos na
Cinelândia (o nome certo é
Praça Floriano Peixoto), em frente ao cinema
Odeon,
que foi o último dos grandes cinemas construídos (em 1926) na época de
ouro da Cinelândia – a praça tem esse apelido justamente por causa do
número de cinemas (7) que existiam no local. O Odeon é o único que
continua em operação, e tem uma
programação intensa.

A Cinelândia numa segunda-feira de manhã, e a Bia em frente ao Odeon.
A
Cinelândia
fica no finalzinho da Avenida Rio Branco, que originalmente se chamava
Avenida Central, e foi construída no início do século XX pelo prefeito
Pereira Passos na grande reforma urbanística do Rio de Janeiro (conhecida como
Bota Abaixo,
já que centenas de casas e cortiços foram demolidos para abrir espaço
para ruas e avenidas mais amplas, para melhor arejar e sanear o Centro).
A Avenida Central ligava o porto na Praça Mauá até a Glória, e era
(ainda é) a principal avenida do Centro.
Ao redor da Praça da Cinelândia ficam o
Theatro Municipal (de 1909, e que passou por uma restauração recente, está lindo!), a
Biblioteca Nacional (de 1910), o
Museu Nacional de Belas Artes (que foi a Escola Nacional de Belas Artes, de 1908), a Câmara de Vereadores (
Palácio Pedro Ernesto, de 1923), e o também histórico
bar Amarelinho (fundado em 1921). Em frente ao Theatro fica o
Monumento a Floriano Peixoto
(de 1910), com diversas esculturas representando 4 grupos brasileiros
(negros, índios, colonizadores brancos e missionários), pensamentos
positivistas e o Marechal, no topo. A Bia explicou a história do
monumento, dos prédios, do Bota Abaixo, haja informação!

Theatro Municipal do Rio de Janeiro

A Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro

Palácio Pedro Ernesto (Câmara Municipal)

Monumento Marechal Floriano Peixoto, na Cinelândia
Da Cinelândia seguimos pela Avenida 13 de maio (pela lateral do Theatro Municipal) até o Largo da Carioca, rumo ao
Convento de Santo Antônio.
Mais um dos lugares que eu tinha passado em frente trocentas vezes e
nem sabia que poderia entrar. O Convento começou a ser construído em
1608 e só foi finalizado em 1620, no alto do morro que ficava em frente a
Lagoa da Carioca, que foi aterrada com as obras de urbanização do
Centro. O chafariz da Carioca passou a trazer água (que vinha pelo
Aqueduto da Lapa) para a população local.

Convento de Santo Antônio no Largo da Carioca

O jardim interno do Convento de Santo Antônio
O Convento está passando por uma restauração que vai levar anos, mas
vai ficar incrível com o que já descobriram por baixo de camadas de
tinta ao longo dos anos. Mas eu fiquei mesmo impressionada com a
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco Penitência
(construída entre entre 1657 e 1733) – minha gente, eu nem imaginava
que uma igreja barroca assim existisse no Rio de Janeiro, achei que era
coisa que eu tinha que ir nas cidades históricas de Minas pra ver ao
vivo. De cair o queixo!

A fantástica igreja barroca da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência
Saindo do Convento, seguimos rumo à
Confeitaria Colombo
ali pertinho da rua Gonçalves Dias. Fundada em 1894 por dois imigrantes
portugueses, a Colombo era o reduto de intelectuais e da alta sociedade
na
Belle Époque carioca. Linda, linda, linda, com seus
espelhos belgas com moldura de jacarandá, tudo muito bem preservado.
Babei nos doces mas ainda era cedo e não comprei nada pra comer, vai
ficar pra próxima visita a o Rio.

A linda Confeitaria Colombo, de 1894

Pra quem quer tomar um café no clima da Belle Époque
Fomos andando pela Rua da Quitanda, onde as mulheres negras que
conseguiam sua liberdade pela lei dos sexagenários vinham vender comida
na rua pra comprar a liberdade dos filhos. Fomos até o
Palácio Tiradentes, onde funciona a infame Assembléia Legislativa do Rio, e onde Tiradentes ficou preso por 3 anos. Depois andamos em torno do
Paço Imperial
– Paço é uma denominação abaixo de Palácio, porque só podiam existir
Palácios no Reino e aqui era a Colônia. A família real chegou de
Portugal no Rio e se instalou no Paço em 1808, e depois se mudou para a
Quinta da Boa Vista. Dois eventos importantes que aconteceram no Paço
Imperial foram o
Dia do Fico e a
Assinatura da Lei Áurea. Vimos o Chafariz da Praça XV feito pelo
Mestre Valentim
(eu nunca tinha me dado conta que esses chafarizes não eram
decorativos, e sim onde a população vinha buscar água), a estátua do
General Osório vitorioso após a Guerra do Paraguai, a
Igreja de Nossa Senhora do Carmo
(Antiga Sé) que se tornou a Catedral quando a família imperial chegou
ao Brasil (nós não entramos na igreja durante o tour, eu entrei na volta
pra casa, porque era no meu caminho). A Catedral foi palco da coroação
de D. João VI como rei de Portugal (em 1816) e do casamento do príncipe
D. Pedro com D. Leopoldina da Áustria (em 1817), futuros imperador e
imperatriz-consorte do Brasil.

O Paço Imperial do Rio de Janeiro, onde a família imperial morou quando chegou ao Rio

O Palácio Tiradentes no Rio de Janeiro

A Antiga Sé, Catedral Imperial

O interior da Catedral, palco de uma coroação e um casamento real
Ali em frente tem o
Arco do Teles, e foi por lá que a gente entrou, pela Travessa do Comércio passando em frente a Casa da
Carmen Miranda, numa ruazinha cheia de restaurantes fofos. Continuamos andando, passamos pela
Igreja da Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores,
que é considerada “milagrosa” porque foi atingida por uma bala de
canhão (destinada ao Paço Imperial, que pontaria!) e continuou de pé (a
bala de canhão pode ser vista preservada dentro de uma parede da
igreja). Ali do lado na Rua do Ouvidor tem o restaurante
Antigamente,
que a Bia me falou que tem uma feijoada divina (pena que eles não
estavam servindo naquele dia, senão eu ia ser obrigada a comer ali
depois).

O Arco do Teles, em frente a Praça XV

Casa da Carmen Miranda, na Travessa do Comércio # 13

Restaurantes na Travessa do Comércio

A
Igreja da Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores foi atingida
(acidentalmente) por uma bala de canhão (originalmente era pra acertar o
Paço Imperial!)
Seguimos até chegarmos a
Casa França-Brasil e ao
Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Às
segundas terças-feiras
o CCBB está fechado, mas a ótima Livraria da Travessa e a lanchonete
funcionam. Fizemos um lanchinho rápido por lá e seguimos para a
Candelária.

Centro Cultural Banco do Brasil, CCBB
A história da Candelária é muito interessante: um casal que viajava
em um navio chamado Candelária quase naufragou em uma terrível
tempestade; fizeram uma promessa para Nossa Senhora da Candelária que se
sobrevivessem construiriam uma igreja em sua homenagem. O navio
conseguiu chegar ao porto do Rio, e o casal cumpriu sua promessa: em
1609 construiu a primeira capela com esse nome, onde hoje está a igreja.
Seguiram-se muitas obras, expansões, decorações, até 1901 quando a
igreja recebeu suas portas de bronze.

Candelária do Rio de Janeiro

Interior da Igreja da Candelária no Rio de Janeiro

Teto da Igreja da Candelária
Voltamos para a Avenida Rio Branco, passamos em frente ao Banco
Central do Brasil e chegamos então a rua Dom Geraldo, que é onde fica o
Mosteiro de São Bento.
E aí mais uma vez eu babei com outra igreja barroca-rococó incrível
(essa eu sabia que existia mas nunca tinha visitado nem visto fotos, foi
uma outra surpresa). A igreja do Mosteiro é famosa pelas suas missas
com canto gregoriano, e as domingos as 10h da manhã você pode assistir a
missa toda em latim, além dos cantos. Eu não sou religiosa nem nada,
mas quero ver só pelo ritual, que deve ser bem interessante.

Mosteiro de São Bento

A Igreja Nossa Senhora de Montserrat no Mosteiro de São Bento
E ali terminou o tour, a gente desceu o morrinho de volta pra Avenida
Rio Branco, eu me despedi da Bia e já avisei que vou mandar toda a
minha família fazer o tour com ela (a minha mãe já pegou o telefone pra
marcar pra ela e pras amigas em breve). Muito bom mesmo,
recomendadíssimo!
O nosso roteiro (mais ou menos) no Google Maps:
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Obrigada a Rio Walks que ofereceu este tour como cortesia.
Informações úteis:
Bia Tognarelli Guia de Turismo
Telefone: 21 9515-2354
Dias e horários: é só ligar e combinar com a Bia
Preço: R$ 60 por pessoa
Dicas: Use sapatos ultra confortáveis pra andar muito, claro! O Theatro Municipal tem visitas guiadas, veja os detalhes no
site oficial.
Então vamos conhecer o Rio de Janeiro.
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