O mês de maio deve terminar com recorde de viagens feitas em cruzeiros, projeta a Associação Brasileira de Representantes de Empresas Marítimas (Abremar). O otimismo tem respaldo nos números. Até março, foram 220 mil pessoas a mais viajando à bordo de navios em comparação com o mesmo período do ano passado (740 mil contra 540 mil). Junto com a população crescente, mais vírus, mais bactérias e um risco maior de contaminação por várias doenças.
O último sinal de alerta sobre a saúde dentro dos cruzeiros marítimos veio na semana passada, quando chegaram ao porto de santos 60 tripulantes de um navio com sintomas de diarreia e vômito. A mesma embarcação, uma semana antes, havia registrado idêntico problema com outros 300 turistas.
Laudo pedido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apontou que, na primeira vez, a causa dos sintomas foi a contaminação pelo norovírus que, em terra, já havia feito vítimas no litoral paulista (Guarujá, Santos e Praia Grande).
“Nos últimos anos, a gripe e as gastroenterites por norovírus foram os grandes desafios para a indústria do cruzeiro. Muito mais do que ter cuidado com a alimentação, é preciso ficar atento à higiene para evitar a contaminação por esses vírus”, orienta Flávia Bravo, coordenadora do Centro Brasileiro de Medicina do Viajante, ao citar como dicas lavar as mãos com frequência e preferir talheres, pratos e copos descartáveis.
“Quando detectado o surto de norovírus, todas as áreas dos navios passam por criterioso procedimento de limpeza e desinfecção (PLD): restaurantes, cozinhas, bares, lojas, spa, área de lazer, teatro, cassino, salão de jogos, academia, salão de beleza, áreas de circulação comum, cabines de passageiros e de tripulantes e banheiros públicos” afirma a Abremar em nota.
Ainda que apenas um tipo de vírus tenha sido apontado como vilão no caso recente, a imunologista Elisabete Blanc do Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro lembra que o despreparo dos funcionários que atuam nas cozinhas dos cruzeiros impulsiona os casos de intoxicação alimentar nos cruzeiros.
“Culturalmente, a mão de obra na cozinha é muito ruim. Os preços dos cruzeiros eram muito mais altos no passado e para torná-los acessíveis houve necessidade de diminuir custos. Isso pode ter implicado em contratação de pessoal desqualificado na cozinha”, diz ela, que listou os problemas sanitários das cozinhas marítimas em parceria com a filha (Luisa Blanc) – ela realiza trabalho sobre o tema na Faculdade de Gastronomia da Universidade Estácio de Sá.
Além das boas práticas de higiene da equipe que atua nas cozinhas, a temperatura e o tempo de exposição dos alimentos nas bancadas ajudam a proliferar bactérias nos alimentos. “Usar alimentos com maionese, e servir sucos muito naturais são situações propícias para as intoxicações. A orientação é preferir os alimentos que saem direto das cozinhas e que não fiquem muito tempo expostos nos bufês.”
Estruturas frágeis
Os problemas gastrointestinais em cruzeiros não são as únicas doenças que viajam no navio. O verão entre 2008/2009 também colocou em evidência a possível fragilidade do sistema de saúde dentro dos cruzeiros marítimos. Em pouco menos de um mês foram registradas cinco mortes de turistas em cruzeiros – alguns deles temáticos – e cada um dos óbitos reuniu exemplos diferentes de doenças que exigem estrutura adequada de medicina dentro das embarcações.
A primeira das mortes foi de uma universitária de 24 anos e a suspeita é de que ela tenha sido asfixiada pelo próprio vômito. A oferta excessiva de bebidas alcoólicas nas viagens, em especial no esquema ‘tudo incluso’ foi questionada e pode colocar em risco a saúde dos tripulantes, em especial os mais jovens.
Dias depois, uma cadeirante de 32 anos também morreu em um cruzeiro. A causa não ficou clara mas, na embarcação, 380 pessoas tiveram intoxicação alimentar. Logo depois, um homem de 32 anos também morreu em um cruzeiro, de meningite. Amigos dele relataram que procuraram socorro antes da morte. Completam os casos, a morte de uma senhora de 74 anos de acidente vascular cerebral e a de outra mulher de 58 anos, por infecção generalizada (neste episódio, a família também reclamou que procurou ajuda).
A sequência de casos fez com que o Ministério do Turismo criasse uma comissão nacional para cuidar da saúde das embarcações, em parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para traçar políticas públicas preventivas nos cruzeiros.
Saiba como evitar problemas
Antes de viajar
• Consulte um médico de viagem ou que tenha experiência para fornecer as diretrizes da vacinação e da prevenção de doenças de acordo com o estado de saúde prévio do viajante, com a duração da viagem, com os locais a serem visitados e com as atividades recreativas prováveis
• Atualize o calendário de vacinação de acordo com a faixa etária e as condições específicas de saúde, inclusive a vacina da gripe
• Siga as recomendações de prevenção e imunização que se aplicam a cada local do itinerário
• Informe-se sobre medicamentação mais adequada em caso de enjôo
• Leve todos os medicamentos dentro das embalagens originais, com a prescrição do médico e relato da indicação
• Informe-se sobre o tipo e a qualidade dos serviços médicos no próprio navio e também ao longo do itinerário. É essencial saber se e como os passageiros e a tripulação podem ser enviados para a terra em caso de necessidade
• Verifique a existência e a qualidade da enfermaria do navio
Durante o cruzeiro
• Lave as mãos frequentemente, com sabão e água ou use um sanitizador à base de álcool. Isso ajuda a prevenir tanto a gripe quanto o norovírus
• Só beba água mineral industrializada
• Tome cuidado com o que come – confie no seu nariz e utilize bem os seus olhos
• Aos primeiros sintomas gastrointestinais ou respiratórios, procure o serviço médico do navio
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